domingo, 25 de julho de 2010

Eleições Brasil 2010

Postado por Jô

Fonte:http://www.resenhafeminina.blogspot.com/




Mais do que um texto bacana, essas palavras, na sequência, chamam para a reflexão. Uma brilhante analogia entre as eleições e copa do mundo, eventos no calendário brasileiro muito evidentes e em pauta neste ano de 2010. Reparem vocês que o texto é de 2002, mas não perde em nada a sua essência, se tornando assim atemporal, e sem dúvida, ainda balizado na veracidade das questões que
ele coloca e nos chama, de novo, a pensar.


A copa do nosso mundo

Na verdade, a copa do nosso mundo será disputada em outubro, ou melhor, será decidida em outubro, quando alguns milhões de eleitores vão depositar nas urnas os nomes daqueles que estão em campo há muito tempo, jogando bola de todo jeito.

Alguns com classe, com empenho, com garra; outros especializados em bola nas costas, ainda outros que são fantoches de cartolas, enfim, gente de todo tipo, querendo o voto de gente de todo tipo, o que produz resultados rigorosamente assim, de todo tipo...

A copa do nosso mundo, lamentavelmente, não produz nem de longe o interesse da copa disputada nos distantes gramados do Oriente. Mesmo considerando jogo de madrugada, durante a semana, seis horas da manhã, oito e meia, enfim, num horário que tira muito da graça da maioria dos continentes apaixonados pelo jogo da bola, mesmo assim, quem dera que as copas das eleições tivesse pelo menos dez por cento do interesse que a outra desperta.

Do mundial da bola o cidadão torcedor tem muito a dizer. Sabe os juízes que vão mal, que interferem no resultado do jogo com seus erros. Reconhece os craques, diz a escalação dos times, conta a vida dos jogadores, aprende a falar nomes complicados, enfim, rapidamente domina o quadro, o assunto e vai para as esquinas discutir quem é melhor, quais as chances do Brasil, quem pode ser o ganhador, qual será o mais sério adversário. O interesse patrocina isso. Só o interesse ganha esse desempenho, faz de cada um aquele técnico abalizado e competente.

Pois é justamente a falta de interesse que transforma o eloquente, competente e entusiasmado cidadão torcedor no apático, desinteressado e despreparado cidadão eleitor, incapaz de entender as jogadas, conhecer os maus juízes, identificar jogadores bichados, vislumbrar rapidamente os craques, aqueles capazes de marcar os gols do progresso, do desenvolvimento e da justiça social.

Em nome de um certo nojo pela política, produto de escândalos que desfilam a toda hora, o cidadão eleitor afasta-se das arquibancadas, deixa a geral, fica distante, não acompanha, não tenta entender, não quer ver o jogo. E porque não entende, na hora em que é chamado para escalar o seu time, escala mal. E porque escala mal, tem novas decepções, tem que engolir o seu grito de gol.

Um dia, quem sabe, vai ser diferente... O cidadão torcedor e o cidadão eleitor serão a mesma pessoa, nas duas copas. Ah, que um dia isso vai acontecer!

Márcio Doti
Diretor de Jornalismo da Rede Itatiaia de Rádio
Maio de 2002